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sábado, 18 de dezembro de 2010

Nostalgia (Cemitério de Emoções)

Naquele momento eu senti dor. Sim, dor. E, ao mesmo tempo, eu nunca desejei tanto uma lâmina para me cortar. Eu desejei a dor. Eu a desejei, porém, de uma forma diferente. Eu desejei meu sangue escorrendo, pingando aos poucos, como lágrimas no chão. Desejei fazer meu corpo chorar, pois minhas lágrimas haviam secado.
Sim, eu senti dor. Mas não uma dor comum de quando machucamos nossos corpos sem querer. Eu senti uma dor para a qual não existem analgésicos para curar (pelo menos não especificamente). Um sofrimento sem atalhos, profundo e inadiável. Uma tortura irrelutante que simplesmente ocorre quando se sente falta de alguém.
Saudade. Sim, este é o nome. Saudade. E então um turbilhão de sons e imagens insurgiu em minha memória. E me vieram doces recordações de momentos sublimes, do ápice de minha existência desde então. Me vieram sorrisos, risos, abraços, beijos, conversas, gestos... Tudo de mais gracioso que ocorreu nos últimos tempos. E também me vieram lágrimas, brigas, discussões, ofensas e fatos dolorosos que antes tanto significavam, tanto doíam, e que hoje, lembro aos risos e lágrimas, se estas ainda me pertencessem.
Estas memórias me abraçaram de forma carinhosa, acolhedora e gentil. Um sorriso retorcido e incompleto se esboçou em minha face, pois este abraço, tão sublime, além de me acariciar me estrangulou. Junto da saudade nasce a dor. Pois saudade é gostar de algo que se foi, que não está mais presente. É tentar abraçar o intangível. É a decepção óbvia de falhar ao perseguir o impossível.
É tão triste ver como tudo perde o sentido diante de seu contexto. Como tudo se esvai aos poucos nos labirintos da memória. Que o concreto se torna abstrato, e o passado existe apenas como lembrança. Que as guinadas da trajetória da existência nos fazem tanto perder, tanto deixar para trás.
Guardamos nossas memórias em tesouros recônditos, de apreciação sôfrega e deleitosa. E estes tesouros evanescem como cadáveres a se decompor. Somos apenas um cemitério de memórias, de emoções obsoletas. Até sua remoção, como ossadas de indigentes no nosso cemitério de sentimento.
Jaz a imagem, o epitáfio de lembranças. O sentimento se abafa, se sufoca, morre aos poucos agonizante em sua asfixia.
È triste mas tudo morre, se decompõe e desaparece inexoravelmente.


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